Construção da Cidade


 

Obra coletiva e interminável, a cidade em seu fazer-se cotidiano vai aos poucos apagando seu passado e desfazendo os espaços de memória daqueles que já viveram suas ruas, praças e recantos em outros tempos.

Ainda que nossos investimentos como educadores estejam apontando para o futuro, para o vir a ser, não podemos deixar de acompanhar e delinear as paisagens em transformação constante pelas mãos humanas. Dar visibilidade aos antigos referenciais, estimular o respeito ao mais velho sem deixar de propugnar pelo novo também faz parte de nossas articulações educacionais.

Ao escolhermos como tema a construção da cidade, buscamos reforçar esse trabalho com a transformação e a necessidade de preservação. Trabalhando com memórias e lembranças, podemos aqui refletir com Marilena Chauí a respeito da sua afirmação: [...] A função social do velho é lembrar e aconselhar, unir o começo e o fim, ligando o que foi e o por vir, mas a sociedade capitalista impede a lembrança, usa o braço servil do velho e recusa os seus conselhos.(1)

(1) CHAUÍ, Marilena. In BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembrança de Velhos.  São Paulo: T. Queiroz/EDUSP, 1987, p. XVIII.

“Em casa não havia água encanada, usava-se água da mina, depois meu pai furou um poço. Próximo de casa havia uma venda que era da Dona Luzia e o bar do Sr. Zeca (José André de Moraes). Ah! A gente comprava sorvete do seu Zeca na volta da escola (...) Onde é a praça Nicola Viviléchio era um brejo cheio de taboa (...) tinha a jardineira no Maria Rosa, que não só andava no Taboão, ia para Itapecerica e Pinheiros. A condução era muito diferente, muitas vezes meu pai ia a pé até Pinheiros e eu, quando trabalhava, ia a pé para o Caxingui.”(2)

(2) TEIXEIRA, Teruko Tajima, funcionária da PMTS. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, nov. 2003. 

 

31 anos de Taboão da Serra.

Há praticamente 28 anos trabalhando na Prefeitura de Taboão da Serra, Benedito Comino é uma das poucas pessoas que conhecem bem a história (...).

(...) Os moradores tinham uma vida limitada, era um bairro de Itapecerica, todos se conheciam, principalmente os mais antigos. A população estava concentrada em diversos núcleos: Vila Santa Luzia, Jardim Maria Rosa, Jardim Helena, Vila Pazzini, Arraial Paulista e Pirajuçara, sempre em pequenos loteamentos. O comércio existia apenas para atender os núcleos. (3)

(3) 31 anos de Taboão da Serra. Gazeta do Taboão. Taboão da Serra, fev. 1990, p. 60. 

“Até hoje me lembro quando chegou o caminhão da Light: aqui ninguém tinha luz e começaram a subir os postes, só no conjunto de seis casas que era ligada a luz. (...)."(4)

(4) OLIVEIRA, Adão Nunes de. Antigo morador do Jardim Taboão. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, nov. 2003.

 

 

Transporte coletivo: Que saudades!

Antigamente, Taboão da Serra era uma cidade com um número pequeno de moradores, e por essa razão, havia poucas linhas de ônibus que serviam a região. “Essas linhas, porém, passavam em horários fixos, pré-estabelecidos, ou seja, todos sabiam exatamente a hora em que os coletivos iriam passar”, conta Comino.

“Todos os passageiros se conheciam”, prossegue, “e cada um tinha seu lugar. Era como se os bancos estivessem reservados. O curioso é que se uma pessoa entrasse no ônibus e seu lugar estivesse ocupado por uma outra, esta cedia o banco para o seu dono. Não havia superlotação.”(5)

(5) 31 anos de Taboão da Serra. Gazeta do Taboão. Taboão da Serra, fev. 1990, p.60.

 

“Na cidade havia dois serviços de alto-falantes. O primeiro foi implantado pelo Sr. Waldemar Gonçalves e ficava no Cristo. Eu e um amigo implantamos o segundo serviço de alto-falantes da cidade, a Rede Amplificadora Independência. Através desses alto-falantes eram transmitidas notícias, músicas, propagandas e até se fazia política. ”(6)

(6) ANDRADE, Armando de. Ex-prefeito de Taboão da Serra. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, out. 2003.

 

Desenvolvimento

Taboão da Serra alcançou nos últimos anos um crescimento muito grande e constante. Comércio e Indústria impulsionaram a cidade tornando-a uma das mais importantes de São Paulo. A proximidade com a Capital, segundo Comino, é uma das razões para o desenvolvimento acelerado.

“Soma-se a isso as condições que a cidade oferece (Parque Industrial, prestação de serviços etc.). ”

“Foi a partir da década de 70 que as indústrias começaram a se instalar em grande número aqui no Município. Antigamente, o preço de terra em Taboão era bem mais barato que na Capital (...)”.

Benedito Comino acredita que a emancipação foi decisiva para a cidade: “(...) o Município começou a atrair investimentos, gerar recursos, ou seja, acabou o marasmo de antes.”(7)

(7) 31 anos de Taboão da Serra. Gazeta do Taboão. Taboão da Serra, fev. 1990, p.60.

“Eu vim para cá em 1940 com 1 ano de idade, minha irmã Maria tinha 10 meses. Moro aqui há 64 anos.

Meu tio tinha um terreno no bairro Castilho e convidou meu pai para fazer plantações. As primeiras plantações eram de arroz, feijão, batata, mandioca e milho.

Para chegar aqui no Pirajuçara, vinha pelo Campo Limpo: a gente ia daqui a pé para o largo do Taboão e pegava o ônibus para ir para Pinheiros.

Tentaram colocar linha de ônibus duas ou três vezes, mas, como não tinha gente, desistiram.

As verduras iam para o Ceasa, meu tio tinha uma carroça tipo charrete. Depois comprou um jipe, eles pararam a lavoura para começar a olaria pelo dinheiro, pois lavoura dava muito pouco lucro.

Em 1953 ou 1954 começou a olaria, tinha gente que trabalhava. Meu pai contratava e dava casa e lenha. Como hoje, naquela época tinha que dar tudo."(8)

(8) SORDI, Therezinha. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, nov.2003.

Paço municipal

“Aqui onde é a Praça Miguel Ortega era tudo mato. Só tinha um prédio antigo e algumas casas. A região também pertencia aos padres Beneditinos.

Na antiga prefeitura, que ficava na Rua Getúlio Vargas, poucos eram os funcionários que ali trabalhavam para administrar o município. Muitos dos aparatos que eram usados naquela época, como mesa, cadeira, máquina de datilografar, carros e outros, eram do prefeito ou de vereadores. ‘O Osvaldo comprou muitos destes equipamentos para serem usados por nós, pois afinal ele era rico’. Ali havia um grande problema: a cada chuva de verão, as enchentes vinham e nós éramos castigados por ela também.

Nós mudamos para o atual Paço Municipal na década de 70, um período em que a cidade crescia vertiginosamente e pedia um novo espaço para a sua administração. Além disso, é claro, tínhamos que sair da área de enchentes, pois tínhamos muitos documentos importantes em nossa posse. Nós mudamos para cá e nos instalamos no prédio antigo, que hoje não existe mais. "(9)

(9) Texto elaborado com base em informações concedidas pelos Senhores Benedito Comino e Ary Dáu, ex-prefeito de Taboão da Serra.

“Nicola alugou um sobrado na Getúlio Vargas e ali foi instalada a prefeitura na parte de baixo e a Câmara em cima (...)”. (10)

(10) ANDRADE, Armando. Ex-prefeito de Taboão da Serra. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, out. 2003.

 

Decreto Lei nº 5/60

Artigo 1º - Fica aberto na Contadoria Municipal um crédito especial de CR$ 25.000, 00 (vinte e cinco mil cruzeiros) destinado à compra de uma carroça nova e um animal a seu respectivo arreio para atender o serviço de remoção de lixo domiciliar diário no Município de Taboão da Serra.(11)

(11) TABOÃO DA SERRA, Decreto Lei n.º 5, 1960. Livro de Leis do Município de Taboão da Serra.

Decreto Lei n.º 11/60

Artigo 1º - Fica o Município autorizado a contrair com a Fazenda do Estado um empréstimo de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), destinado a atender as despesas com a instalação e organização dos serviços administrativos Municipais. (12)

(12) TABOÃO DA SERRA, Decreto Lei nº 11, 1960. Livro de Leis do Município de Taboão da Serra.

Decreto Lei nº 29/60

Curiosidade

As Leis e as Posturas Municipais

Artigo 1º - A taxa de apresentação de apreensão e depósito de animais, veículos e mercadorias recai sobre os proprietários dos animais soltos encontrados a vagar pelas vias públicas do Município, tais como: gado cavalar e bovino, suíno, caprino, lanígero, caninos etc.

Bem como os veículos e mercadorias apreendidas em virtude de infração às Leis e Posturas Municipais, será cobrada na forma da Tabela desta lei (...) (13)

(13) TABOÃO DA SERRA, Decreto Lei n.º 29, 1960. Livro de Leis do Município de Taboão da Serra.

Decreto Lei nº 91/62

Artigo 1º - Fica criado na Prefeitura Municipal de Taboão da Serra o serviço de extinção dos formigueiros. (14)

(14) TABOÃO DA SERRA, Decreto Lei n.º 91, 1962. Livro de Leis do Município de Taboão da Serra.

Decreto Lei n.º 97/62

Artigo 1º - Ficam designadas as cores verde e amarelo para serem usadas na pintura dos veículos Municipais.

Artigo 2º - Os veículos da Prefeitura Municipal deverão, além dessas cores, conter em relevo os dizeres “Prefeitura Municipal de Taboão da Serra”.(15)

(15) TABOÃO DA SERRA, Decreto Lei nº 97, 1962.  Livro de Leis do Município de Taboão da Serra.

Taboão: do carro de boi à industrialização.

O desenvolvimento de Taboão foi impulsionado com a construção da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que transformou a Vila em passagem obrigatória para todos os viajantes. Em 1959 (19 de fevereiro), com o movimento pela emancipação, Taboão tornou-se município, separando-se de Itapecerica da Serra (...).

Rodovia Federal acabou sendo um vetor de crescimento de Taboão da Serra, levando para a cidade dezenas de indústrias que impulsionaram seu desenvolvimento. Porém, tal expansão teve um forte custo social. Milhares de trabalhadores ocuparam as várzeas do Rio Pirajuçara e Joaquim Cachoeira. As oportunidades de trabalho não acompanharam o crescimento populacional, também inflado por dezenas de loteamentos clandestinos que os administradores da cidade não puderam (ou não quiseram) inibir (...).(16)

(16) Taboão: do carro de boi à industrialização. Jornal Fato Expresso. São Paulo 15, fev. 2003, p.3.

“(...). Havia uma lei de incentivo que dava isenção de impostos... O que as indústrias davam para o Município naquela ocasião não era tão significativo para o nosso desenvolvimento, mas a proximidade com a capital, a mão de obra (...), transportes, a Rodovia inaugurada por Juscelino, também nos trouxeram desenvolvimento. ”(17)

(17) COMINO, Benedito. Funcionário da PMTS. Entrevista concedida pela equipe de história. Taboão da Serra, 29 abr. 2003.

 

O Pão Nosso

A industrialização brasileira não encurtou o abismo entre pobres e ricos. Os senhores viraram empresários, mas continuam a viver em novas versões da casa grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas continuam morando na senzala, em dormitórios feitos para isolar o pobre depois do serviço.

Nos anos 90, aprendemos que, em sessenta anos de industrialização, o Brasil havia gerado três categorias sociais: ricos, pobres e indigentes. É como se elas habitassem países diferentes. Existe a minoria rica, branca, sofisticada, formando uma sociedade mais ou menos comparável ao Canadá. Tem a maioria pobre, negra, silenciosa e resignada, do tamanho do México. Uma população indesejada, quase inimiga. (18) SOUZA, Herbert . “Reflexão para o futuroRevista Veja, São Paulo.  Abril, 1993, p.16-17.

Nicola Vivilechio, Prefeito Municipal de Taboão da Serra, faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu promulgo a seguinte lei: 

Decreto Lei N.º 8/60.

Artigo 1º - A prefeitura Municipal de Taboão da Serra concederá isenção de impostos Municipais a todas as empresas industriais que se instalarem neste Município, desde que preencham as formalidades legais (...).

Artigo 2º - Parágrafo 3º (...) a empresa ou indústria interessada deverá anexar requerimento para pleitear a inserção, um demonstrativo geral das atividades que irá exercer, assim como área a ser construída, número aproximado de operários, capital em giro, capital registrado e o montante a ser empregado na obra (...).(19)

(19) CÂMARA MUNICIPAL DO MUNICÍPIO DE TABOÃO DA SERRA. 1º. livro - 17, jun. 1960. 

Decreto Lei Nº 35/60

ARTIGO 1º - Fica criado o Serviço de Estrada de Rodagem do Município de Taboão da Serra (S.E.R.M.T.S.) diretamente subordinado ao Prefeito Municipal, órgão que se refere à alínea “a” do art. 7º da Lei 302 de 13 de julho de 1948, ao qual competem os encargos e conservação de estradas de rodagem e caminhos Municipais, inclusive obras de arte correntes e especiais, além dos serviços afins.(20)

(20) CÂMARA MUNICIPAL DE TABOÃO DA SERRA - 1º livro - 31 jun. 1960. 

Inaugurada ontem pelo presidente Kubitschek a BR-2. S.PAULO – CURITIBA

O presidente Juscelino Kubitschek passou ontem cinco horas e meia em território paulista numa visita que será certamente a última que faz a este Estado durante o atual mandato. O chefe da Nação, que veio a São Paulo, com o objetivo de inaugurar a Rodovia Régis Bittencourt (BR-2), ligando esta capital a Curitiba, foi recebido no aeroporto de Congonhas pelo governador Carvalho Pinto e rumou logo a seguir para o posto situado nas proximidades de Itapecerica da Serra, no quilômetro 42 da Rodovia. Ali inaugurou a primeira placa comemorativa da abertura da BR-2, seguindo depois, de                                                                                                                                                                                                                          automóvel, para Registro (...)”(21)

(21)  Inauguração da BR-2 – São Paulo – Curitiba. Jornal O Estado de São Paulo, 25 jan. 1961. Caderno especial, p.3

A estrada que temos hoje, atual BR-116, chamava-se BR-2 na década de 1960. Havia uma dificuldade muito grande de condução, porque só existia um ônibus.

 

 

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