Entre o rural e o urbano


A eleição deste tema, quando se trata da cidade de Taboão da Serra, diz respeito à peculiaridade local de vivermos em um município que, não tendo nenhuma área rural em seu espaço delimitado, apresenta, no entanto, em suas raízes culturais, fortes laços com a ruralidade nos costumes, festas e  tradições. Dessa forma, podemos refletir com Maura Véras de como o espaço geográfico é também social. É um conjunto de formas do presente e do passado, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual, com evolução diferente. [...] O urbano é constituído pelo movimento contraditório dos momentos de socialização do processo de trabalho e da realização na forma do espaço construído, onde em suas raízes perduram as cenas cotidianas do rural*.

* VÉRAS, Maura Pardini Bicudo. Trocando Olhares: Uma introdução à construção sociológica da cidade. São Paulo: Studio Nobel/EDUC, 2000.

NAQUELES VELHOS TEMPOS

            “Meu pai apresentava a banda nas quermesses da Igreja Santa Terezinha. Todos os anos aconteciam essas festas caipiras (...)

            A pitangueira foi plantada pela minha mãe, dona Catarina, em homenagem ao meu pai, senhor Zeca (José André de Moraes), em 1930(...).

            Antigamente, não tinha chuveiro. Havia um chuveiro tipo balde, para minha mãe e minhas irmãs tomarem banho. Meu pai pedia que eu e o Mário fôssemos buscar leite na chácara. Nós aproveitávamos e tomávamos banho no rio todas as manhãs, no córrego Poá, lá dava peixes (...)[1]

[1] MORAES, Nelson de . Empresário Imobiliário em entrevista concedida à equipe de História. Taboão da Serra, out. 2003.

 

Nesses velhos tempos, não existia a denominação rua, eram caminhos e estradas.

(...) Assim vinham às carreiras e tropeiros à venda  de suas mercadorias, trazidas de Cotia, Ibiúna, Embu e Itapecerica, isso antes do nosso mercadinho dos caipiras inaugurado em 1907.

(...) O mercadinho dos caipiras ficava localizado no terreno (...) a sua finalidade era a venda das colheitas de batata, feijão, criações de leitões, aves, ovos, etc.(...) dos caipiras de Cotia, Ibiúna, Embu e Itapecerica.”[2]

[2] FILHO,  Simão. Memória Urbana. São Paulo: Emplasa, v. 1, 2003, p.103. 

“(...) O que eu me lembro bastante é de bicicleta, charrete, cavalo, isso sim. Saíamos daqui eu e meus amigos quando trabalhávamos no Instituto Pinheiros. Cada um tinha sua bicicleta e íamos para Pirapora, 60 km daqui, passear de bicicleta, cheios de saúde, com 18, 19 anos (...)”[3]

[3] NETO, Teodoro Franco, antigo morador do Arraial Paulista. Entrevista concedida à equipe de História.  Set. 2003. 

 

“E ali na beirada do rio caçavam-se rãs, pescava-se e havia corridas de cavalos. Este rio não era o Pirajuçara, era ali partindo da João Santucci,(...) Naquele espaço que descia da João Santucci, havia baile, bailão. Mas o mais divertido era caçar rã. Tinha esse rio aqui na Getúlio, na Santa Luzia, era por aqui que se caçava rã (...)”[4]

[4] GONÇALVES, Waldemar, entrevista concedida à equipe de História. Taboão da Serra, jun. 2003.

 

O CAIPIRA

‘(...) o caipira paulista define-se primeiro por ser naturalmente do lugar onde vive: o campo, a roça, o sertão, a mata, o lugar oposto à cidade (...). É quem ‘não mora em povoação (...)’

(...) Entre os anos do fim do século passado e, sobretudo, os do começo deste, alguns estudiosos da cultura paulista descobriram que o estado tinha como tipos o ‘caipira’ e o ‘caiçara’ que é o caipira do litoral. Foi então que ele  deixou de ser ‘uma gente miserável de cultura invisível e se tornou o agente da cultura popular do Estado (...)’[5]

[5] RODRIGUES,  Carlos Brandão. Os Caipiras de São Paulo. São Paulo: Brasiliense, 1983, p.7,12.

 

ANEDOTA

“O caipira comprou um sítio no meio de um matagal e, sozinho, começou a trabalhar. Capinou, arou, construiu um galinheiro, um pomar, fez uma horta e uma casinha de dar inveja aos seus vizinhos. Um dia o padre resolveu aparecer por lá para pedir um donativo e comentou:

            - Que belo trabalho vocês fizeram aqui!

            - Vocês?

            - Sim, você e Deus!

- Ahhh! Mas o senhor precisava ver como é que estava isso aqui na época que ele cuidava sozinho!”[6]

[6] ANEDOTAS disponível em: http://www.imortais.pahpg.ic.com.br/caipiras. Acesso em 20 nov. 2003.   

      

“Uma cultura como modo de vida e trabalho construída durante séculos e atualmente  em extinção ...”  A casa, o quintal, a roça e a mata: lugares de trabalho.

“Cedo na vida, as crianças camponesas iniciam, com os pais e os irmãos mais velhos, o aprendizado dos ofícios caipiras do rancho, do terreiro, da roça e da mata. Por volta dos cinco ou seis anos, uma menina começa a ajudar a mãe nas rotinas da casa. Um pouco mais tarde ela lava a roupa, cuida das criações e ajuda a mãe nas alquimias diárias da cozinha. Com menos de dez anos, mistura a escola – quando vai à escola – com os cuidados da casa, sempre que a mãe e as irmãs mais velhas vão para a roça nos tempos de trabalho mais intenso na lavoura. Cedo também o menino cuida com o pai de assuntos do quintal e leva ‘pros homens’ a comida diária, quando a roça é longe do rancho. Um pouco mais tarde meninos aprendem, no ofício do trabalho, os segredos do lavrar e trabalham com os pais, tios, padrinhos e outros ‘mais velhos’ nos diferentes serviços do lavrador. Na idade que as meninas da cidade começam a largar de lado as bonecas, algumas moças da roça podem estar começando a carregar o primeiro filho. Ao longo da puberdade, a família e a comunidade da vizinhança esperam que ela conheça boa parte do que uma mulher caipira precisa saber para casar, para ‘tocar’ por conta própria um rancho e uma família. Jovem ainda, um lavrador caipira é um homem preparado para ‘tocar sua roça’ e responder pela sua família.” [7]

[7] Idem nota 5. p. 67

 

Caipira é um termo de origem tupi e designa, segundo CUNHA, indivíduo rústico, tímido; roceiro, matuto. Para Cornélio Pires “Caipira seria o aldeão; nesse caso encontramos o tupi-guarani ‘capiâbiguara’. Caipirismo é acanhamento, gesto de ocultar o rosto. Nesse caso temos a raiz ‘cai’ que quer dizer ‘gesto de macaco ocultando o rosto’. ‘Capipiara’, que quer dizer ‘que é do mato’. Capiã, de dentro do mato, faz lembrar o  ‘capiau’ mineiro.  ‘Caapi’, trabalhar na terra, lavrar a terra – ‘caapiára’, lavrador. E o caipira é sempre lavrador (...)”[8]

[8] CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupy.  São Paulo: Editora Melhoramentos USP, 1989.

 

“Os camponeses – pais, mães, filhos, avós e toda a parentela – vivem em bairros compostos por moradias, uma capela e, no geral, uma venda – local onde a vizinhança se reúne, propiciando encontros sociais. Nela é cumprida a função tanto de espaço geográfico quanto de espaço social, e são realizadas manifestações culturais, religiosas e de trabalho”[9]

[9] Idem nota 5 p. 24

 

“(...) O bairro do Taboão era da chácara da Laurita (região entre a rua João Santuci e o rio Pirajussara) do rio para cá, onde tinha a bomba de gasolina. Eu matei lagarto, cobra, raposa...caçava-se muita raposa. Ali onde é a faculdade hoje (Anhanguera, na época FTS) era mato... tudo mato. A gente ia buscar lenha para mamãe cozinhar... Era tudo mato, foi melhorando com os padres que compraram a chácara... “[10]

[10] OLIVEIRA, Adão Moraes de – (Nascido em 1911) Entrevista à Equipe de História em 20/11/2003.

 

“(...) Antes da igreja de Santa Terezinha existir, a gente se reunia no salão da casa dos padres e atrás tinha uma caneleira (árvore) muito grande que o povo se reunia para conversar, contar  histórias, para preparar as crianças para o catecismo, isso na década de 1930, e depois é que foi feita a igrejinha. (...) Eu lembro de ver o marco como referência (Marco da Estrada do M’Boy na altura da Chácara do Jóquei na Francisco Morato),  que as pessoas tinham de capital e interior. De Pinheiros para cá (Vila Sônia) era capital e do marco para Itapecerica era interior. (...) Antigamente a gente tinha vaca, porco, galinha, que beleza meu Deus do céu!”  [11]

11OLIVEIRA, Catarina Nunes de. Nascida em 1920 no largo do Taboão na casa da bomba de gasolina (foto),  esposa do Sr. Adão entrevista com a equipe de História em 20/11/2003.

 

“O fim da era dos caipiras é o começo dos tempos atuais, marcados pelos altos índices de violência, pela degradação da qualidade de vida e pelo esquecimento da cultura popular mais autêntica de Taboão. (...) Um acontecimento marca, simbolicamente, a transição de um Taboão que, no dizer de seu hino, tinha ‘serestas nas noites de festas’, para outro atual (...) onde é frequente ouvir tiros nas madrugadas. Esse acontecimento foi o acidente que matou o querido Seo Zeca (da venda), José André de Morais. Ele saía de sua casa às margens da BR-116 e o freio hidráulico de um caminhão assustou o cavalo da charrete que ele dirigia. Espavorido, o animal disparou e, na carreira, matou o seu condutor. O mundo caipira não podia mais conviver com o ritmo e a força da moderna tecnologia."

 

Nota publicada no Jornal O Pirajuçara  

Morreu José André de Morais       ‘Zeca do Taboão’

Vítima de acidente de trânsito, faleceu no último sábado em frente à sua própria residência. Zeca foi vereador e prefeito de Taboão da Serra, e como morador há mais de cincoenta anos em nossa cidade, foi participante de nossa história. Foi ele quem cuidou da lendária pitangueira, colocou a imagem do Cristo Redentor no Morro dos Desboados (hoje morro do Cristo). Era ainda o organizador das romarias e das cavalhadas, manifestações folclóricas hoje já extintas em Taboão da Serra” (12) 

[12] GONÇALVES, Waldemar. Taboão da Serra na Virada do Milênio.  Taboão da Serra: publicação do autor, 2000.

O  INSTITUTO PINHEIROS  

“O Instituto Pinheiros foi fundado em 1928 com o objetivo de utilizar industrialmente os progressos conquistados pela ciência no terreno da imunologia e de profilaxia de doenças contagiosas (...).

O Instituto Pinheiros é hoje (foi) o maior produtor de soros da América Latina (tanto do antitetânico como do antidiftérico, como também dos antiofídicos etc.), elevando-se a mais de 400 o número de cavalos que mantém para esse fim.

Possui um serviço antirrábico que pode ser apontado como padrão, pois graças à sua perfeita organização, qualquer pessoa mordida tem a possibilidade de tratar-se sem abandonar a sua cidade.

Pelo seu serpentário, passam anualmente 10 a 15 mil cobras venenosas enviadas desse e de outros Estados.

O controle dos produtos do Instituto Pinheiros exige a manutenção de modelar biotério onde 6000 cobaias e 5.000 camundongos, além de pombos e coelhos, são criados e mantidos sob as mais severas condições de higiene.

Quase 5.000 dosagens químicas, 3.000 determinações de esterilidade, perto de mil dosagens biológicas e centenas de provas de inocuidade realizadas mensalmente pelos laboratórios de controle da Divisão Científica, dão aos seus produtos garantia absoluta da mais alta qualidade (...)

Hoje após 20 anos de árduo e honroso trabalho, o Instituto Pinheiros alcançou a posição de uma das maiores indústrias farmacêuticas do país e quiçá do hemisfério sul, com capital de Cr$ 20.000.000,00 (vinte milhões de cruzeiros), empregando mais de 700 funcionários. Sua organização comercial estende-se por toda a América Latina e inicia suas atividades agora na Europa.”[13]

[13] Instituto Pinheiros. Jornal O Pinhão. São Paulo, mar. abr. 1948, p. 2.

 

FAZENDA DO INSTITUTO PINHEIROS

“Naquela época, muitos anos atrás, antes do município existir, antes de 1940, a fazenda do Instituto Pinheiros já estava aqui. Era um laboratório que tinha sede em São Paulo, ali na rua Teodoro Sampaio.

Essa fazenda era imensa, sua entrada era pela Estrada de Itapecerica 937, hoje Rodovia Regis Bittencourt. Para se ter uma ideia da dimensão desta fazenda, ela ia da rodovia BR 116 à estrada Kizaemon Takeuti e até o Campo Limpo. Hoje fariam  parte destas terras o Inocoop, o Parque Pinheiros, aquela região onde há muitas indústrias e onde está localizada a CINPAL.

Os funcionários deste laboratório eram em sua maioria de Taboão da Serra e muitos moravam dentro da fazenda. O Nicola Vivilechio, primeiro prefeito de Taboão da Serra, também trabalhou ali. Os professores e diretores eram de São Paulo”[14]

[14] Texto elaborado a partir de informações concedidas à equipe de História pelos senhores Benedito Comino e José Tavares.

 

FINAL DO INSTITUTO PINHEIROS

“ A fazenda do Instituto Pinheiros foi vendida aos poucos, ali fizeram um grande loteamento. Em seguida foram para Passo Fundo na Fazenda Roseira. Aquela região se desenvolveu muito, pois a Prefeitura da região colaborou muito.

Duartina foi vendida para um americano, toda parte de soroterapia foi doada ao Instituto Butantã, pois era muito caro se manter o Instituto.

Primeiro foi vendido para a Cintex do Brasil, que ficava na Vila Guilherme, depois o laboratório WYETH-WHITEHAL Ltda encampou-o na Chácara Santo Antonio.

Quando o Instituto Pinheiros acabou, as pessoas perderam a referência e sofreram muito, correram para lá e para cá, perderam casa, tudo. Até hoje choram pelo Instituto Pinheiros.”[15]

[15] TAVARES, José. Entrevista concedida à equipe de História. Taboão da Serra, agosto 2003.

 

“A partir das décadas de 1940 e 1950, começam a se configurar as distantes áreas periféricas pela extensão do tecido urbano que se expande em direção aos territórios para além do rio Pinheiros. A cidade de São Paulo passa a determinar fundamentalmente dois processos na Bacia do Pirajuçara: por um lado, consome os elementos naturais que através do trabalho sobre a terra e das trocas monetárias realiza suas necessidades como a construção de edifícios, de casas, do alimento; por outro, devora-lhe também a própria terra, produzindo outra morfologia, o urbano, fundamentado em outra forma de propriedade privada, os loteamentos.”[16]

16 SILVA, Marco Antonio Teixeira da. O Ambiente Fluvial das várzeas no espaço da metrópole: a bacia do Pirajuçara na metropolização de São Paulo. São Paulo: USP Dissertação de Mestrado. Depto. de Geografia, 2009.

 

“ Da época que me lembro (...) Taboão mudou muito de 1960 para cá. A gente brincava no rio Poá, lavava as frutas tiradas do pé, a BR (116) era fácil de atravessar, a calçada era bem larga... Depois, mais ou menos em 1960, começaram a aparecer loteamentos por aqui, começaram os bancos, acho que de dez anos para cá, Taboão mudou a cara, o número de prédios, os mercados. Taboão melhorou muito. O fato de as pessoas virem morar e trabalhar, antes elas trabalhavam longe daqui, era mesmo uma cidade dormitório. Hoje não, o pessoal mora mesmo! Trabalha mesmo! Quanto ao trânsito, é tudo diferente.”[17]

[17] PAZZINI, Joana, nascida em 30/06/1920. Entrevista concedida à Equipe de História em novembro de 2003.

 

“Depois, em 1966, o barro estava terminando também. Então depois foi loteamento, para imobiliária(...) Vendi o terreno para uma imobiliária que fez o loteamento, venderam tudo, e hoje o Jardim Mituzi é povoado. Ninguém dava valor no Pirajuçara naquela época. Naquela época, quando teve a emancipação eram oito mil habitantes. (...) A gente batalhou para trazer benefícios para o nosso bairro(...) Naquela época (dos loteamentos), esse pessoal veio para cá (migrantes), mas precisava fazer alguma coisa (trabalho)... “[18]

18 TAKEUTI, Mituzi. Entrevista concedida à equipe de História em outubro de 2003.

 

“A cidade enquanto construção humana, produto social, trabalho materializado, apresenta-se em formas de ocupações. O modo de ocupação de determinado lugar da cidade se dá a partir da necessidade de realização de determinada ação, seja de produzir, consumir, habitar ou viver. (...) A cidade, em cada uma das diferentes etapas do processo histórico assume formas, características e funções distintas. Ela seria assim, em cada época, o produto da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder nela centralizado. (...) Pode-se dizer que a cidade nasce da necessidade de se organizar um dado espaço no sentido de integrá-lo e aumentar sua independência visando determinado fim. Isto é a sobrevivência do grupo no lugar e o rompimento do isolamento das áreas agora sob sua influência”.[19]

19 CARLOS, Ana Fani A.  A Cidade.  São Paulo:  Contexto, 2009, p. 45 e 57.

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem – se algum houve –, as saudades.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   Luís de Camões[20]

 

[20] SILVA, Raquel Henriques da e outros. "Olaria portuguesa: do fazer ao usar" Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.

 

OLARIAS IMPULSIONARAM O PROGRESSO DE TABOÃO

 

 

“O grande bairro do Pirajuçara no passado era um grande produtor de tijolos: construiu o progresso dos Jardins, Morumbi, Jóquei Clube e Cidade Jardim.

O Parque Industrial pirajussarense era formado pelos seguintes oleiros: Paulo de Sordi, José Pedro Bordezan, Afonso Rodrigues, José Maria, José Cifarelli, Asses Srruf, Antonio de Souza, Pedro Sconóllia, Correia, Tsuhuno (Zinho japonês), Malagólli e muitos outros que ocuparam a área desde a nascente do Ribeirão Pirajussara no Embu (casa do Zé Maria) até a estrada velha de Santo Amaro, hoje Benedito Cesário de Oliveiro. O vestígio das olarias chegou até as terras do Luciano (Zé sapateiro) em pleno largo do Taboão.

Entre eles, o que tinha uma escala industrial com métodos era Mituzi Takeuti, o maior produtor taboanense.

O bairro do Pirajuçara é o berço das olarias regado pelas águas do ribeirão Joaquim Cachoeira, que foi o motivo principal do sucesso, pois as olarias precisavam de muita água para funcionar.

O pioneiro entre os oleiros é o filho do imigrante italiano Paulo de Sordi, casado com Gabriela Justino de Souza, natural de Sertanópolis/PR, cujos descendentes  transformaram a velha olaria em fábrica de blocos.”[21]

21 Jornal Alternativo “Olarias impulsionaram o progresso de Taboão” Taboão da Serra, fev. 2003, p. 5.

 

O Sr. Paulo de Sordi possuía duas olarias localizadas na Av. Kizaemon Takeuti, antiga estrada do Pirajussara, próximas ao Galpão Grill. Ali trabalhavam cerca de 15 pessoas.

O trabalho na olaria era muito difícil e transcorria da seguinte maneira: tirava-se o barro do barreiro que ficava na beira do rio e colocava-o na caçamba e no picador. Posteriormente, jogava-o na pipa e 2 burros rodeavam, amassando-o; na boca da pipa, saía o barro por um  quadradinho de aproximadamente 20 cm. Ali era cortado, colocado em um carrinho e levado até a banca onde era feito o tijolo. Ali era cortado, batido na forma e depois empilhado no chão para secar. Levava cerca de 15 dias para secar. Depois os tijolos eram colocados no forno e ali ficavam 4 dias e 4 noites queimando (o fogo não podia apagar senão este pretejava). Depois de cozidos, levavam cerca de 4 dias para esfriar dentro do forno. Eram desenformados e colocados no carrinho para serem empilhados e logo vendidos.” [22] 

22 Informações concedidas pela família de Sordi. Antigos moradores do Pirajuçara. Taboão da Serra. Set. 2003.

 

ALVENARIA DE TIJOLOS

“(...) Os imigrantes definiram novos gostos, costumes e expectativas na tradicional sociedade paulista e ajudaram a implantar uma nova arquitetura, mais requintada, alterando por completo a fisionomia urbana das cidades. Eles também foram os responsáveis pela generalização de novas técnicas construtivas, como a alvenaria de tijolos(...) em 40 anos, São Paulo transformou-se da cidade de taipa para a cidade de tijolos.

Durante os três primeiros séculos, a taipa de pilão foi o sistema construtivo empregado em todo tipo de construção paulistana. Ocasionalmente, usava-se alvenaria apenas em obras especiais (...).

(...) foi brutal a transformação sofrida pela cidade de São Paulo no final do século XIX. Sem dúvida, nenhuma mudança estrutural de ordem econômica, social e cultural determinariam essas alterações. Porém, foi a introdução e a adoção irrestrita de um novo sistema construtivo – a alvenaria de tijolos – que gerou tudo isso.”[23]

23 D´ALAMBERT, Clara Correa. O Tijolo nas Construções Paulistanas do século XIX. São Paulo: s/ed., 1993, p243.

 

            “O Grupo Escolar da Caixa Beneficente da Guarda Civil foi uma escola diferente, porque as crianças tinham a mão grande, pois trabalhavam em olaria. Como acordavam muito cedo, quase não dormiam (...)”

As crianças faziam aquilo para aumentar a renda familiar. Cerca de 1/3 dos alunos eram de famílias de oleiros”[24]

24 BENDINELLI, Amélia Ueda. Coordenadora e professora aposentada. Entrevista concedida à equipe de História. Taboão da Serra, out. 2003.

 

A história do Tijolo

Para a produção de tijolos, é necessário que o terreno ofereça barro ou argila e lenha. (...) Para iniciar as culturas da terra, era necessário o desmatamento de parte do lote, o que produzia farto estoque de lenha. Se no lote não houvesse barro, os tijolos vinham de olarias já constituídas, ou então os próprios colonos usavam o barro local e a lenha proveniente do desmatamento para cozer os tijolos necessários à construção da casa.

 

O barro, retirado de cavas, era transportado em carrinhos de mão, amassado com os pés e colocado em formas de madeira "tão grandes que quebravam facilmente" (Antonio Pincinato). O excesso era retirado com arco de pau e arame. Depois de secos, os tijolos eram queimados em caieiras, fornos de cavados em barrancos (Luis Chiaramonte).

 

As olarias mais definitivas possuíam fornos de tijolos com paredes bastante grossas e coberturas de telhas. Para amassar o barro, usavam as "pipas", construídas em madeira e movidas a burros que, amarrados, andavam em círculos. (...) Nestas olarias, o ir e vir da lenha, do barro cru ou cozido em tijolos, era realizado pelos carroceiros. (...)

 

Aqui vale um comentário sobre a história do uso do tijolo no Brasil e a sua relação com a multiplicação das olarias e cerâmicas. Até a segunda metade do século XIX, as construções brasileiras eram regularmente feitas em taipa. As olarias produziam as telhas, com as quais eram feitas as coberturas das construções coloniais, e ladrilhos ou lajotas para revestir pisos. (...) Com a vinda dos imigrantes italianos, em maioria vênetos, uma nova paisagem começa a se formar. Os vênetos tinham enorme familiaridade com o tijolo. Veneza foi inteiramente construída com tijolos no século XV. Os italianos trouxeram consigo, nas grandes levas de imigração, técnicas construtivas cuja popularização deu início à história da habitação em alvenaria de tijolos em São Paulo. (...) De acordo com dados do Arquivo do Estado, mapas estatísticos confirmam o desenvolvimento expressivo de olarias em São Paulo, que passam a se multiplicar a cada ano a partir de 1887. (...)[25]

25 Disponível em  HTTP//www.lucianomarinho.com.br/blog/a-historia-do-tijolo.html.  Acesso em 20 de julho 2014.

 

"Tinha muita olaria. Naquela época foi o que dava dinheiro. Dessa forma, montei a olaria, tudo, e precisava de pessoal, o trabalho. Tinha a turma lá de Minas Gerais. Eles vieram procurar serviço para cá. Ficou comigo aí. Com a olaria, eu dava emprego para as pessoas. Cada trabalhador, a gente tinha que dar casa para morar na propriedade.” (...)

 

Era só eucalipto (na área da olaria). Tirava o barro, virava com o burro (misturador) lá na forma, quer dizer, para ter um formato. Com a máquina, era a mesma coisa: virava aqui, no lugar do burro (no misturador), botava no sol secando, depois ia ao forno.(...)

 

Antes da industrialização (da olaria) era só na base da carroça. Para queimar, se tivesse lenha por perto, tirava, mas tinha que comprar. Naquela época, já não tinha mais carvoaria. (...) Depois que comecei a olaria, mudou, eu consegui comprar um ‘caminhãozinho’. Cheguei a ter cinco caminhões. Meti o peito sem ter dinheiro, trabalhei, mas graças a Deus... [26]

26 TAKEUTI, Mituzi. Nascido em Janeiro de 1927 na região. Entrevistado pela equipe de História em 2003.

 

   “Eu trabalhava na olaria do Ferreira que era da minha mãe. O poço da olaria tinha mais água, na olaria tinha um buraco grande redondo  e aí vinham as caçambas, carroças, que eram chamadas de barreiro, que tirava o barro... a terra, jogava tudo naquele buraco... tinham dois burros ou as vezes um só, então os burros ficavam rodeando (sic) em volta, iam fazendo o barro e umas pessoas pegavam a massa e colocavam nos carrinhos de mão, e tinham os terreiros, o lugar onde a gente fazia os tijolos. Tinha uma pessoa que cortava e batia na forma que tinha as iniciais: as do meu sogro eram LP – Lívio Pazzini. Eu comecei a trabalhar na olaria com 10 anos e fui até quando eu casei com 18. A gente acordava às 3 horas da manhã, mas dormia cedo porque naquela época não tinha luz, era lamparina, (...)”[27]

28  Sra.  Joana Pazzini, nascida em 1929. Entrevista concedida à equipe de História em 2003.

 

 

Eu trabalhei na olaria (...) Eu levantava de madrugada e ia carregar o caminhão (...) Os tijolos eram feitos de barro, existia uma pipa, um negócio redondo que tinha um tablado no fundo que a gente colocava o barro para fazer a mistura para o tijolo. Os burros giravam a pipa... isso era uma, duas horas da manhã. E depois quando eram 7 ou 8 horas, a gente pegava mais três burros para puxar o barro. Era barro com água, mas para tirar era duro, porque o barro era bom. Aqui era brejo e aí a gente tinha que fazer o desvio da água.

A gente vendia para as construtoras, para o Jockey Clube de São Paulo, (...) O mercado de Pinheiros, fui eu que forneci. Meu pai ficou com a olaria durante muito tempo. Aqui só tinha mato, no Taboão bairro em 1940, não tinha nada (...).”[29 ]

29  Sr. Rafael Vazame Jr., nascido no bairro do Taboão em 1936. Entrevista concedida à equipe de História em novembro de 2003.

 

 

 

O “CINTURÃO VERDE” E O PROBLEMA DE ABASTECIMENTO EM SÃO PAULO

   

    “Uma análise sumária do desenvolvimento desta Capital nos últimos 20 anos mostra que, enquanto a cidade se expandiu em todos os sentidos (...) a produção de subsistência não aumentou (...). Enquanto a população paulistana aumentava de 1 milhão de habitantes em 1934 para mais de 2 milhões e 800 mil em 1954, (...) os chacareiros e vaqueiros dos arredores da cidade foram sendo absorvidos pelos novos bairros que se formaram pela periferia da Capital, e pelas populações satélites que se instalaram além de suas divisas. Entre outros fatores, (...) destacamos os seguintes: 1.º) Apreciável concentração da propriedade fundiária nas mãos de elementos estranhos à agricultura (...). 2.º) Febre dos loteamentos, em geral desordenados, de tipo urbano em zonas rurais(...). 3.º) Excessiva valorização das terras (...). 4.º) Perseguição sistemática, de tipo policial, ao vaqueiro da Capital (...). 5.º) Dificuldades criadas ao comércio ambulante de produtos agrícolas (...). 6.º) Exorbitantes preços das hortaliças(...)

      A principal consequência desse estado de coisas é que a produção de frutas, hortaliças e outros gêneros se acha praticamente estacionária à região agrícola da Capital.

      Esta excessiva elevação dos preços nos últimos anos (...) constitui um dos fatores limitantes de seu consumo com grave repercussão na saúde do povo (...)”

UM SONHO QUE SE REALIZA

     Felizmente, aquilo que parecia um sonho para muitos começa a se transformar em plena realidade (...). Entre elas, destacam-se três decretos (...) fundamentais ao desenvolvimento e racionalização da produção e distribuição de gêneros de subsistência na área do ‘Cinturão Verde’ (...).

     Esses determinam: a) Prestar assistência técnica aos agricultores (...); b) Estabelecer cursos rápidos de horticultura e campos de demonstração em todos os bairros de produção; c) Divulgar a prática dos processos racionais para a transformação dos produtos e aproveitamento dos subprodutos de origem animal e vegetal; d) Realizar o fomento das pequenas hortas e pomar doméstico, assim como da avicultura caseira;  e) Promover a multiplicação e distribuição de sementes selecionadas de hortaliças; f) Executar serviços mecânicos especializados (...) j) Promover a produção e distribuição de pintos e rações para aves; k) Difundir entre os agricultores do distrito cooperativista; l) Incrementar a produção mista (...) principalmente a horticultura com a produção avícola, leiteira e suína (...)

O Problema da Terra

       O segundo decreto (...) n.º 22.553-B de agosto de 1953 (...) que dispõe sobre financiamento e aquisição de lote rural com até no máximo 20 hectares no Cinturão Verde, para todos os que desejam explorá-los para produção de abastecimento da cidade de São Paulo.(...).

O Problema da Distribuição

      (...) o terceiro e último decreto a que nos referimos é o de n.º 22.209-A, que declara de utilidade pública uma área de aproximadamente 700 mil m², (...) área necessária à futura instalação do Centro de Abastecimento da Cidade de São Paulo.”[30]

30 “O CINTURÃO VERDE” e o problema de abastecimento em São Paulo. Folha da Manhã, São Paulo, 24 e 25 jan. 1954. Suplemento Especial, p. 10

 

 

COLÔNIAS NIPÔNICAS

           

            “Grande número de colônias de nipônicos surgiu em áreas periféricas da capital, sobretudo Cotia, Vargem Grande, Piedade, Embu, Itapecerica etc. Pinheiros e sobretudo seu Mercado passaram a ser um centro de atração para a colocação e venda dos produtos agrícolas desses sitiantes.

            Em 1927, depois de várias tentativas infrutíferas, um grupo de 83 lavradores (...) organizou uma ‘Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada dos Produtos de Batata em Cotia S/A` (...).

            Posteriormente, estenderam a cooperativa também para os produtores de tomates e ovos, e o ‘Diário da Noite’ de 3 de maio de 1930 teceu os maiores elogios a essa cooperativa. 
Diz ele: A sociedade Cooperativa de Produtos de Batatas em Cotia é um exemplo de aptidão agrícola do colono japonês aliada a um tino comercial muito louvável. A sociedade é composta apenas por japoneses (...)”[31]

32 REALE, Ebe. Brás, Pinheiros, Jardins: três bairros, três mundos. 2ª ed. São Paulo: USP, 1982, p.79-80.

 

 “Taboão integrou o ‘cinturão verde’ ao abandonar as fazendas do noroeste paulista devido às condições desumanas nas lavouras de café e algodão. Os imigrantes japoneses migraram para perto da Capital. Começava a se delinear o ‘cinturão verde’ da Grande São Paulo, com centenas de japoneses dedicados ao cultivo de frutos, legumes e verduras. (...) Uma parte dos pioneiros japoneses chegou a Campo Limpo e Taboão. Em 1936, a região foi assolada por uma chuva de granizo. Destruiu toda a plantação, (...) Os colonos recorreram à Cooperativa Agrícola Cotia (...).  O livreto ‘Memórias da Imigração Japonesa em Pirajuçara’ narra que a região se transformou em ‘colinas de terras cultivadas e produtivas’ (...)

No Pirajuçara, a ocupação se iniciou em 1924. Foram 7 pioneiros (...) a começar o desbravamento com reforços recebidos. (...) Muitos traziam as lembranças do trabalho quase escravo em lavouras paulistas. Kisaemom Takeuti era um deles. (...) Chegou a Santos com 20 anos. (...) Mas as técnicas agrícolas eram rudes e não havia sequer caminhos para escoar a produção.  (...) Na tentativa de abrir uma via de acesso entre o Pirajuçara, Pinheiros e Santo Amaro, os japoneses recorreram às autoridades. Mas (...) decidiram construir uma estrada por conta própria. Derrubaram árvores, carregaram terra e plantaram o solo com os próprios punhos, abrindo uma via entre o atual Centro Cultural do Pirajuçara até o limite de Taboão da Serra. Hoje é o maior corredor comercial e de trânsito da cidade com o nome de estrada Kisaemon Takeuti, homenagem ao pioneiro que faleceu em dezembro de 1969.”[32]

32Jornal O Pirajuçara,  Junho de 2003.

 

  O conceito de cinturão verde que inicialmente enfatizava as áreas de produção hortifrutigranjeiras que cercavam São Paulo foi, graças ao crescimento das preocupações ambientais na segunda metade do século XX, se transformando de tal maneira que hoje diz mais respeito aos aspectos de preservação das áreas verdes do que das áreas de reabastecimento das cidades. Isso é o que podemos observar no texto a seguir. ( equipe 2014).

 

OS CORREDORES VERDES ( GREENWAYS)

“(...) As redes de corredores verdes são também conhecidas como infraestrutura verde, que corresponde a uma rede interconectada de espaços verdes que conservam as funções e valores naturais dos ecossistemas e fornecem uma série de benefícios às populações humanas. De modo geral, os corredores verdes urbanos são elementos lineares que servem como  conexão entre um fragmento verde e outro e que integram equipamentos e outras funções importantes para a cidade.

Entre as funções básicas dos corredores verdes urbanos estão:

  • Manutenção da Biodiversidade: tem como objetivo permitir a movimentação das espécies  animais e vegetais, garantindo assim a sua continuidade. Em São Paulo e em outras áreas urbanas, os corredores podem ampliar a movimentação e a disseminação de animais (aves e pequenos animais) e vegetais (principalmente sementes);
  • Proteção dos Cursos d’água tem como objetivo  preservar  a qualidade da água e recuperar as áreas com interesse para drenagem, principalmente as várzeas e fundos de vale;
  • Criar e incrementar espaços para recreação e Cultura tem a função de abrigar áreas de lazer e priorizar o uso de transportes alternativos não poluentes.

 A (...) “Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo (RBCV) é um importante anel verde protegido que contém áreas naturais responsáveis pela qualidade de vida da metrópole, por meio de uma série de serviços ambientais prestados. Podemos citar os oferecidos por recursos hídricos e florestais, além de gêneros agrícolas, controle de desastres naturais, bem como aspectos culturais, dentre outros (...). O Cinturão  Verde da Cidade de São Paulo foi declarado Reserva da Biosfera em 1993.”[33]

33 LEITE, Julia RodriguesCorredores Ecológicos na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo – Possibilidades e Conflito. Tese FAU/USP, SÃO PAULO 2012 , p. 39,54,56.

 

“Taboão (...) Situado às margens da Estrada de M’Boy , na encruzilhada que dá acesso também a Santo Amaro, nosso pequeno e principal núcleo populacional eram as famílias e o pequeno comércio de “beira de estrada”, do atual Largo do Taboão. Era a venda do Seo Zeca, apelido carinhoso do Sr. José André de Moraes, com a sua pitangueira à porta, onde os fregueses amarravam os seus cavalos enquanto tomavam um trago ou faziam suas compras.”[34]

34 GONÇALVES, Waldemar. Taboão na Virada do Milênio. Publicação do Autor. Taboão da Serra, 2000. 

 

“ Eu nasci no bairro do Campo Limpo em 1911, mas Taboão já existia e -na  década de 1920 - era enchente e mato. A Av. Francisco Morato chamava Estrada de Itapecerica e isso durou até o marco de M´ Boy. O largo do Taboão tinha morro e então o caminhão não passava. Era preciso colocar corrente para subir e puxar... Isso quando chovia muito.”[35]

35 OLIVEIRA, Adão Nunes de. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, 20 de novembro de 2003.

 

BAIRRO TABOÃO 

         

            “A partir da década de 1920, Taboão foi se constituindo em vários polos de povoamento, que iniciavam no marco existente na Estrada do M’ Boy (atual Francisco Morato, próximo aos pequeninos do Jockey), pertencente ao município de Santo Amaro, seguindo o caminho até Embu (atual BR-116), pertencente à Comarca de Itapecerica da Serra. Portanto, é correto afirmar que Taboão da Serra foi um bairro de Santo Amaro até 1935, como também parte de suas terras pertenciam ao subdistrito do Embu. Somente com a emancipação em 19 de fevereiro de 1959 é que houve a possibilidade de se discutir quais eram as terras exatas do então município de Taboão da Serra.

Até a década de 1950, existia apenas a estrada do M’ Boy ou Itapecerica, que era um caminho de terra batida, típica do interior, sendo percorrida por carroças de boi transportando lenha, carvão e batata.

Esporadicamente acontecia neste trajeto o circuito de Itapecerica, que era uma corrida de automóvel que teve seu início em 1908, promovida e dirigida pelo Automóvel Clube de São Paulo e foi a primeira corrida da América do Sul, com ponto de partida e chegada na capital paulista. Participaram da prova 15 pilotos do Rio e de São Paulo, tendo como ganhador o Conde Silvio Penteado, com seu Fiat de 40 C.V.(cavalos), que cobriu o trajeto de 70 km/h. A gasolina era vendida apenas em latas de 37 litros por 16$000 (dezesseis mil réis) e 50 litros por 35$000 (35 mil réis). O percurso total tinha 75 quilômetros e hoje é cortado pelo Rodoanel, Rodovia Regis Bittencourt, além de ter outros pontos importantes como o Shopping Eldorado, o Largo de Pinheiros, o Estádio do Palmeiras, a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio e a Avenida Paulista.”[36]

36 NETO, Américo. “A Origem da Rodovia no Brasil”. In Revista do IHGSP, L1 1977, p.125.

 

            “O bairro Taboão pertenceu ao subdistrito de Santo Amaro até a década de 1950, pois o bairro Pazzini ficou conhecido somente depois que meu sogro fez o loteamento. Eu lembro que as pessoas chamavam a rua que nós morávamos de Estrada da boiada, que atualmente é chamada de Av. Intercontinental.”[37]

37 PAZINI, Joana. Entrevista concedida à equipe de história. Taboão da Serra, 30 de set. 2003.

 

PROCESSO N.º - 1475/1949

“Livio Pazini, residente no sítio de sua propriedade, localizado no bairro Taboão, desejando construir três casas operárias no sítio acima citado, destinadas a seus colonos, vem respeitosamente requerer o necessário alvará de licença.”[38]

38 ARQUIVO DE PROCESSOS DA PREFEITURA DE SÃO PAULO. Processo 1475/49. 08/03/1949.

 

A CIDADE DE SÃO PAULO

“(...) Surgiu assim um problema de habitação a partir de 1940. A população procurou resolver o problema da casa a seu modo, construindo um tipo de residência modestíssima em terrenos distantes e conhecidos como ‘casas-operárias”, erguidas sem planta, consideradas - portanto - clandestinas e cujo número é calculado em 50 mil, obrigando a criação de uma lei que estabelecesse o perdão fiscal para a infração e o reconhecimento da municipalidade por parte do governo”[39]

39 Comemoração do 4.º Centenário de São Paulo. 24 de jan. de 1945 -suplemento especial. Ano XX.

      O urbano produzido através das aspirações e necessidades de uma sociedade de classes fez dele um campo de luta, onde os interesses e as batalhas se resolvem pelo jogo político das forças sociais. O urbano aparece como obra histórica que se produz continuamente a partir das contradições inerentes à sociedade .(...)

As relações com o lugar são determinadas no cotidiano, para além do convencional. O espaço é o lugar do encontro e o produto do próprio encontro; a cidade (...) não existe dissociada da gente que lhe dá conteúdo e determina sua natureza.[40]

40 CARLOS, Ana Fani A.  A Cidade. São Paulo: Editora Contexto, 2009 p. 71.

 

“(...) a emancipação ajudou evidentemente e deu destaque para  Taboão. A partir da emancipação começaram a vir algumas indústrias para cá, (...) havia uma lei de incentivo que dava isenção de impostos. (...)Não era tão significativo, mas a proximidade com a capital, a mão de obra, ajudaram muito, e depois houve outras coisas que foi por exemplo a facilidade de transporte, a rodovia BR 116, inaugurada em 1962... Juscelino inaugurou a rodovia, que até então era uma estrada que terminava em Itapecerica. A ligação com o sul do país era feita pela Raposo Tavares, certo? Quando passou a ser para cá, essa região sofreu com a influência da rodovia, trouxe problemas, mas trouxe benefícios!...”[41]

41  COMINO, Benedito. Nascido no bairro do Taboão em 1947?, entrevista concedida à equipe de história em 2003.

 

“A partir das décadas de 1940 e 1950, as distantes áreas periféricas  passaram a ser configuradas pela extensão do tecido urbano que se expande em direção aos territórios para além do rio Pinheiros. A cidade de São Paulo passa a determinar a bacia do Pirajuçara, fundamentalmente em dois processos: por um lado, consome os elementos naturais que, através do trabalho sobre a terra e das trocas monetárias, realiza suas necessidades como a construção de edifícios, das casas, do alimento; por outro devora também a própria terra, produzindo outra morfologia, o urbano, fundamentado em outra forma de propriedade privada, os loteamentos."[42]

 

42 SILVA, Marco Antonio Teixeira da . O Ambiente Fluvial das Várzeas no Espaço da Metrópole: a Bacia do Pirajuçara na Metropolização de São Paulo. Dissertação de Mestrado, FFLCH/USP Programa de Pós-Graduação e Geografia. 2009.p.71.

 

Em 1962, “Próximo ao núcleo de povoamento que deu origem ao município de Taboão, na bifurcação das estradas do Campo Limpo e Regis Bittencourt, os loteamentos já retalham o terreno da margem direita do rio Poá, assim como sobem as encostas das colinas interligadas a estes compartimentos, como é o caso do loteamento Jardim Maria Rosa. “[43]

43  Idem p.124

 

O jardim Maria Rosa era uma chácara com uma rua estreita que só passava um carro e tinha um portão de madeira verde onde hoje é o Nelson Imóveis. Tinha a casa do dono da chácara que era o dr. José Maciel e sua esposa Marie Rose(...).

A minha casa não tinha água encanada, usava água da mina e depois meu pai furou um poço. Eu buscava lenha no mato e com a brasa passava a roupa. Quando ia buscar lenha, no caminho comia muitas frutas silvestres: araçá, gabiroba, ingá, Maria pretinha, morango e framboesa. Tinha tudo isso no mato!

(...)não tinha luz elétrica a gente usava lampião e lamparina. A luz chegou quando eu me casei em 1967.  Tinha uma venda da dona Luzia e o bar do seu Zeca. Ah!

Na volta da escola, a gente comprava sorvete no seu Zeca. Tinha a igreja velha de Santa Therezinha e o grupo escolar. Onde hoje é a Praça Nicola Vivilechio era um brejo cheio de taboas.”[44]

44TEIXEIRA,  Teruko Tajima. Nascida em 1939, filha de imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil em 1909 e vieram para o Taboão plantar batatas na década de 1939. Entrevista concedida à equipe de História em 2003.

 

“Na segunda metade da década de 1950, a economia paulista, diretamente articulada ao  Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek, ingressa num período de crescimento baseado nos setores de bem de capital e de consumo duráveis. O estado foi o mais favorecido pelo desenvolvimentismo juscelinista, graças às suas bases industrial, agrícola, de transportes e de comunicação.”[45]

45VILLA, Marco A. Breve História do Estado de São Paulo. S.P.:IMESP, 2009.

 

 


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